Timidez na Escola

Estabelecimentos de ensino lançam um novo olhar sobre o comportamento introvertido. Alunos tímidos não são mais orientados a superar a timidez; pelo contrário, são valorizados e inseridos no mesmo nível dos estudantes extrovertidos



Quando se refere a uma personalidade de maneira restrita, ocorre a negação de sua inteireza. É uma redução que pode gerar discriminação em diversos espaços sociais. Mas na escola ganha contornos ainda mais graves.

Os alunos tímidos pertencem a um dos grupos mais expostos ao bullying. Inicialmente, são excluídos por não atenderem aos padrões estabelecidos. Em seguida, ridicularizados, submetidos a xingamentos e a ameaças, até culminar na agressão corporal.

Diante de tamanha violência, é comum que as vítimas - antes apenas introvertidas - recolham-se ao isolamento. Os abusadores consideram essa reclusão uma constatação do que querem demonstrar à sua plateia: “Estão vendo? É tímido.” E a violência intensifica-se. O rendimento escolar é comprometido. As consequências ultrapassam os muros da escola. Caso não tenham acompanhamento profissional, tornam-se depressivas, com reflexos na sua vida adulta.

Felizmente, cresce o número de estabelecimentos que dão atenção especial ao tema. Em artigo publicado no site da Nova Escola, a doutora em Educação Neurilene Martins revela não haver defeito na timidez e afirma existirem “diferentes ritmos, estilos de aprendizagem e pessoas.” Por esse motivo, “vale a pena prestar atenção nas singularidades dos alunos para não rotulá-los com base em visões estereotipadas de comportamentos ideais.” E conclui: “Não podemos querer transformá-los em algo que não são. Quem não conhece adultos tímidos na vida social, mas profissionalmente são bem-sucedidos?” (grifo nosso).

Mário Antônio é um representante disso. Vivenciou a crueldade do bullying por praticamente toda sua vida escolar.  Em determinado momento, porém, entendeu que, ao contrário da fala dos algozes, ele era inteligente e capaz. Compreendeu também que jamais foi covarde, pois “qual criança não se amedronta quando ameaçada e agredida por um grupo de meninos?”, lembra.

A despeito do depoimento emocionante, ele revela não guardar mágoas. Pelo contrário, dedicou-se para conquistar seu espaço. Atualmente, é um renomado professor, o qual obteve reconhecimento pelo seu talento, bem como por ações de combate ao bullying.

Sempre rejeitou o discurso da incompatibilidade entre a licenciatura e a sua timidez, tanto que a declarava (e declara) abertamente. Como quando presenciava alunos reservados sofrerem constrangimentos. Era a ocasião propícia para demonstrar que aquele perfil não constituía um demérito.

Os estudantes rejeitados reconheciam-se em Mário Antônio. E o argumento do “mal da timidez” era refutado pelo exemplo do professor. Paulatinamente, o tema – antes não abordado – foi inserido no calendário de ações contra o bullying. O rendimento dos alunos tímidos progrediu consideravelmente. Os demais professores adotaram a mesma prática. Atualmente, a escola inteira usufrui da boa convivência entre adolescentes compartilhando suas diferenças.

Uma transformação iniciada pela atitude do professor, pondo-se como agente: “Consideram-me um espelho. Todos participam das ações que desenvolvo. Assim, os mais falantes percebem que o nível de retraimento do tímido é acentuado à medida que a prática do bullying se instala e se alastra”, conclui Mário Antônio. (Texto de Valdeir Almeida)

Este texto integra a série de postagens Desmistificandoa timidez

Um comentário:

  1. É sempre bom ler um texto bem escrito, ainda mais com temática tão relevante. Os exemplos e as referências enriquecem a escrita e o leitor. Parabéns, Valdeir! E obrigado por compartilhar desse seu conhecimento.

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