Casou, mas não sarou




“Sim, aceito.” As palavras que Gouveia sempre sonhou pronunciar, seja qual fosse a amada noiva no altar. Encontrou Marisa. Namoraram pouco, noivaram menos ainda. Apaixonados, julgavam que a intimidade entre eles não cabia em tempo nenhum. Casaram-se logo. 

Nos primórdios do matrimônio, prometiam-se exclusividade e amor eterno. Desde a lua de mel, aliás, Gouveia declarava à esposa: “Amo mais a ti do que a mim.” De maneira lacônica, ela retribuía a jura: “Te amo.”

No decorrer dos dias, o amor não foi mais capaz de ocultar os defeitos da esposa. Ela, que sempre percebeu os dele, relevando todos, notava a frustração do marido, e admitia: “Ninguém é perfeito.”

Gouveia, porém, casara-se para usufruir de uma companhia destituída de imperfeições. Marisa, portanto, não cabia mais nos sonhos dele. A consequência da desilusão: ele seguiu descuidando-se da aparência e negligenciando a saúde. 

Como não tinha mais um ser para amar, Gouveia quis desistir da vida. A mulher foi companheira até o fim, tentado acender nele alguma centelha de amor próprio. Tentativa frustrada: morreu o marido sem amar a si mesmo, sem amar ninguém. (Texto de Valdeir Almeida. Respeite os Direitos Autorais).

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