Nostalgia: saudade do inexistente


Há uma acepção não-dicionarizada da palavra nostalgia: “sentir falta de algo que nunca existiu”. Ao contrário do que possa parecer, esse conceito não é paradoxal.


Por exemplo, os homens das cavernas experimentavam o frio. Tinham, por isso, necessidade de alguma coisa (que até então não existia) para aquecê-los: o fogo.

Houve também o momento em que os ser humano via como limitada a linguagem mediante sinais e desenhos. Ele precisava de algo (ainda inexistente) que sistematizasse seu pensamento e tornasse a comunicação mais expressiva: a palavra.

Conforme esse conceito de nostalgia, a maneira de sentir falta de alguma coisa é experimentar aquilo que provoca o sentimento de ausência. Por exemplo, só temos consciência do silêncio, porque o som é uma realidade concreta. Se desde o nascimento, vivêssemos num ambiente em que só fossem produzidos sons, teríamos necessidade do silêncio, embora não soubéssemos que nome dar a ele.

Possivelmente, era isso que Lulu Santos quis dizer ao compor a música Certas Coisas:


Não existiria som se não
Houvesse o silêncio
Não haveria luz se não
Fosse a escuridão
.....................................

Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que
eu não sei dizer


A vida, portanto, é uma incessante busca por algo que temos consciência de que nos faz uma enorme falta. Entretanto, tal consciência não nos mostra que coisa é essa. Isso provoca uma certa angústia, denominada nostalgia. (Texto de Valdeir Almeida)







19 comentários:

  1. Valdeir, engraçado que quando recordo destas coisas no blog, a falta que sinto não é nem material, mas da sensação daquele momento, do que se viveu (ou seja, que já existiu!) e todas as lembranças acerca daquilo que nos faz recordar. E o passado e o futuro formam uma ponte para este tipo de nostalgia cronológica.

    Será que um dia falar de blog será nostálgico também?

    Um abraço! *Muito interessante este texto.

    Marcelo.

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  2. maravilhosa reflexão, eu não gosto muito de usar esse termo...sei lá não existe em minha vida momentos nostálgico. A convivência com a solidão já basta.

    obrigado pelos votos de felicidade deixados em meu blog.

    abraços

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  3. "...tem certas coisas que eu não sei dizer..."
    O Lulu Santos soube traduzir em canção essa sensação diferente que sempre nos acompanha e que eu nem sabia que se chamava nostalgia.
    O ser humano é bem complexo e para ser sincera acho que hoje eu estou bastante nostálgica.
    Grande abraço Valdeir,
    Gostei de me lembrar do Lulu Santos.

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  4. Adorei o texto, o sentimento que me provocou, a consci^ncia de algo nostálgico que às vezes toma conta, enfim, da letra da música. Parabéns!
    Abraços,

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  5. Adorei o texto!
    Mas angustiante saber que sempre haverá a falta de algo, mesmo que não tenha nome.
    Me fez lembrar:
    "...hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfônica."
    Gosto de dizer - Fernando Pessoa.

    Tenha um ótimo domingo.

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  6. Eu sei bem oq é sentir saudade do que não existe. Sinto muita.
    Que post lindo, Valdeir. Lindo mesmo.
    E eu adoro Lulu Santos.
    Perdão pela ausência, mas as coisas andam corridas por aqui.

    Beijo grande!

    Ah! Hoje é aniversário do Wilson e do irmão dele. Passa lá pra comemorar com a gente!

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  7. Olá, Valdeir

    Essa percepção de que algo nos falta traz uma certa inquietude. O fato de não sabermos o que estamos buscando é o que nos leva por vários caminhos até nos encontrarmos. Esses caminhos são fundamentais na construção e autoconhecimento. Creio que isso é inerente ao ser humano e é o que faz com que possamos evoluir ao longo da vida.

    Forte abraço!

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  8. Valdeir,

    A nossa vida é mesmo uma eterna busca...não sabemos o que procuramos, algo...que nos complete. E, isso é que dá sentido a nossa vida, nos faz seguir adiante.

    Abraços e um boa semana.
    Marise.

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  9. Obrigado pela visita.
    Seja bem vindo ao Partitura.

    Abraços e ótima semana.

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  10. Ótima reflexão..

    Uma das coisas óbvias da vida que, as vezes, passam despercebidas.

    Beijão. Ótima semana.

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  11. sou muito nostalgica. Penso que ao longo de nossas vidas vamos guardando em nossas gavetinhas do coração as coisinhas mais nos fazem lembrar com muita nostalgia aquilo que vivemos. Sejam elas, alegres ou tristes, mas são verdades gostosas de lembrar com saudades e nostalgia.
    Já de volta a vida cotidiana, cheia de vida e muitas reflexões feitas, sempre agradecendo ao bom e maravilhoso Deus aquilo que ele me dá com carinho e misericordia. Mais do que uma simples viagem esses dias para mim foram de um aprendizado maior sobre a vida de um povo, que no maior anonimato vai vivendo sem medo de amar e ser feliz, tirando do nada aquilo que para sua sobrevivência é necessário. Um povo que sofre uma miséria sem fim, mas ainda conserva nos ábios um sorriso carinhoso com aqueles que lhe são caros. Um povo mais que educado, e mesmo sem saber na sua maioria assustadora ler e escrever, mas que é de uma cultura ímpar. Aos poucos vou colocar aquilo que vivi, senti, chorei, sofri, me alegrei e mais que tudo aprendi a amar e respeitar.
    Beijos meu caro e grande amigo.

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  12. Ótima reflexão,porém triste. Sinto saudade de algo que somente eu vivi, pois estava inteira.

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  13. Nem me fale. Também sinto falta, do que não sei. rrs
    Esta procura só acaba quando encontramos, e só sabemos que é o que procurávamos quando passamos a perceber o que foi preenchido. PAZ MEU QUERIDO!

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  14. A carência é algo que nos motiva, de certa forma! A falta de algo ou alguém sempre nos leva ao avante, ao querer mais. Um abraço.

    http://submundosemmim.blogspot.com

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  15. Hoje estou nostalgico. Talvez tenha sido a mudança de estado, sair do sudeste para o nordeste foi dificil. Gosto de lembrar da familia e dos amigos que ficaram lá.

    Sinto falta e que te-los por perto...

    Nostalgia no meu caso é mais tristeza pela impotência de não estar perto do que qualquer outra coisa.

    ABraço ótimo texto.

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  16. Que desesperador isso rs, porque nunca sabemos o que nos falta exatamente, só descobrimos quando alcançamos... Mas faz muito sentido, apesar de que eu pense que saudade e nostalgia sejam a mesma coisa rs. abraçoo!

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  17. Marco Alcantara, não fique, daqui a 1 ano tudo passa, rsr mas só daqui a 1 ano srsr
    Quando sai do sudeste para o Norte foi uma tristeza que parecia não ter fim. Mas depois passou. Fique firme meu querido. Paz!

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  18. Valdeir, desculpe-me apaguei seu cmomentário em meu blog. Por favor, se possível peço sua ajuda, pois não sei como montá lo direito , desde já adradeço sua colaboração. Drica.

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  19. Já tive nostalgias do que vivi e do que não (como conceitua seu texto. Parece que a segunda é mais forte do que a primeira...
    Cabe aqui reflexões profundas ainda. Uma delas é que essa "incessante busca por algo que temos consciência de que nos faz uma enorme falta" pode ser denominado Deus ou Amor. Um é o outro. E o primeiro é fonte do segundo. Pois não deixa aquele de ser este.
    Mesmo um ateu, quando ama, está - ainda que sem saber - proximo daquEle que é o inventor do amor.

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