Filosofando com meu cachorro

Sentei-me na poltrona confortavelmente para ler um livro sobre filosofia. Meu cachorro seguiu-me até que se acomodou no chão e encostou o focinho em meu braço. Ele estava reivindicando carinho. Como não lhe dei importância, deitou e aquietou-se.

A leitura era tão exultante que às vezes eu a interrompia e tecia alguns comentários para meu cachorro. Quando o primeiro capítulo terminou, peguei-me fazendo uma verdadeira explanação. Só percebi que estava falando com um animal, quando ele latiu.

Senti-me um louco por causa disso. Porém pensei: “Mas meu Menino não é qualquer cachorro. Ele é muito inteligente; só falta falar”.

Menino (esse é o nome dele) latiu outra vez; daí, definitivamente, conformei-me que meu cachorro não compreendera nada do que eu havia dito.

A partir dessa triste constatação, fui tomado por um sentimento de compaixão por Menino. Mesmo sabendo que ele não entenderia palavra alguma do que eu ia dizer, falei-lhe: “Pôxa, Menino! Tenho tanta pena de você. Você perde muito por não saber ler, ou pelo menos falar”.

Meu cachorro inclinou a cabeça para o lado, tentando entender a razão da minha fisionomia triste e da minha voz embargada.

Continuei: “A gente poderia estar agora discutindo filosofia ou discorrendo sobre os contos de Machado de Assis. Sua situação é triste, meu amigo: você é um cachorro. Você nasceu cachorro”.

De repente, Menino ouviu outra voz além da minha. Era meu irmão, chamando-o para ir ao parque brincar. Meu cachorro levantou-se rapidamente e saiu correndo pela sala. Entretanto, no meio do caminho, ele parou, voltou a cabeça para trás, me olhou e expressou-se com um curto mas altissonante latido. Agora, era eu que tentava decifrar a linguagem do meu cachorro: “Acho que te entendi, Menino, você quer que eu vá com você, né? Seus olhos parecem dizer que você está com pena de mim, por eu não poder desfrutar das mesmas coisas que você”.

Assim eu desisti de sentir pena de Menino. E ele deixou de ter compaixão por mim e foi ao parque. Eu continuei minha leitura.

18 comentários:

  1. Muito bom este texto, os animais são ótimos companheiros, pena que as vezes não entendemos o que querem expressar a nós.

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  2. Muito bom!
    Filosofia, tenho um balaio, as vezes coloco outras vezes tiro...
    Cães, tenho dois, um Poodle o Frederico(vulgo Fred) e um Bodcoller o G. Costumo dizer que animais só têm dois interresses, comida e sexo, mas o cães são um caso a parte, querem também carinho!
    Como moro numa chacara, esses dois são meus companheiros em passeios diários.
    Parabéns pelo texto, me fêz pensar em complicados príncipios de vida e na simplicidade dos cães!

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  3. Sou apaixonado por cães... concordo plenamente com quem diz que ele é o melhor amigo do homem! Lindo post...
    =D

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  4. Olá Valdeir!!! Tudo bem?
    Tá meio sumido!!! Tenha um ótimo Domingo

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  5. Valdeir, ter um animal já é um bom momento para vivenciar.
    Filosofar você pode fazer a qualquer momento e com qualquer pessoa, basta que você próprio compreenda o conteúdo.
    E aproveite esses momentos todos.

    All3X

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  6. Olá Valdeir!!!

    Obrigada pelo carinho de suas visitas!

    Ótimo texto, fiquei aqui pensando na simplicidade do cãozinho, sentado ali do lado, fazendo companhia, querendo um carinho...e isso me leva a pensar além...sobre nossa falta de tempo em apreciar coisas tão singelas.

    grande beijo
    Cris

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  7. Tal foi o entusiasmo do filosofando :)
    Um bom carnaval...

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  8. Oi Valdeir!

    Daqui a pouco postarei um selinho e você é um dos meus indicados, ficarei muito contente se aceitar!

    beijos

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  9. Oi Valdeir!

    Hoje postarei um selinho que ganhei e você é um dos meus indicados, ficarei contente se aceitar, beijos!

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  10. Coisa maluca, né Valdeir. Eu tb perdi uns 10 seguidores mas não sou tão organizada como vc . Não sei quem são!
    Ah, e no meu painel vc ainda estava sendo seguido. Muito doido

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  11. Lindo texto Valdeir!
    Às vezes a gente acha que as pessoas são infelizes por não fazerem determinadas coisas que fazemos, mas ela pode pensar o mesmo de nós.
    Ótima leitura.
    Gostei muito!!!
    =)

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  12. Olá Valdeir

    Realmente tenho andado meio sumido. Estou com uns problemas no meu Blog Papocicuta e estou tentando resolver.

    Mas foi bom você aparecer. Muito legal seu texto. Ás vezes eu tenho a impressão que os cachorros nos entendem.
    Hoje eu não tenho um cachorro, mas a minha sogra tem um que faz a maior festa quando chego lá.

    A propósito, também já adicionei seu banner aos meus blogs.

    Um abração amigo!

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  13. Olá!!

    €stou passando nos blogues amigos para convidá-los a participar da Blogagem Coletiva sobre “INCLUSÃO SOCIAL” que acontecerá no próximo dia 09/03/2009.

    Ficarei muito feliz de poder contar com sua participação!
    Se for participar, por gentileza, deixe um recado no blog Esterança.

    Desde já, muito grata!

    €ster

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  14. No semblante do animal que não fala, há todo um discurso que somente um espírito sábio pode realmente entender.
    (De um poema hindu)

    Adorei seu texto. Beijos.

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  15. Meu caro Valdemir,

    Agradeço muitíssimo pela tua visita e os comentários positivos... também gostei muito de teu Blog.

    Um abraço,


    Silvério Duque

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  16. Como sou o que os americanos chamam com muita propriedade de "dog people", gostei muito de sua fábula sobre o entendimento sem palavras entre você e o Menino, que deve ser uma adorável criatura.
    Abraços.

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  17. Adorei a a leitura do texto sobre seu dialogo com o Menino mesmo porque tembem tenho um Menino que foi encontrado com o femur quebrado junto de um pista de alta velocidade. Ele tambem e um maravilhoso amigo, agradecido e feliz, demonstrando isso em todos os momentos. Os animais sao maravilhosos. Vida longa aos nossos Meninos!

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  18. Haha, adoro bater papo com minhas três cadelas (eram quatro cachorros, imagine a loucura que não era aqui em casa!). Elas são tão boas ouvintes! Talvez elas não me compreendam mesmo. Nem eu as compreenda de vez em quando. Mesmo assim, não é maravilhoso se sentir importante para elas? É um carinho muito verdadeiro. :)

    Adorei seu texto.

    Abraços!

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