As Cores do Olhar


A lagarta entrou no casulo e de lá não saiu. Familiares e vizinhos deram a notícia. Todo mundo apareceu. Gritavam uns, batiam no casulo outros. Em vão. A suspeita: a lagarta morreu sem nem ser borboleta. Que lástima! 

Então, abriram o casulo, para retirar o cadáver. Mas não havia cadáver, nem borboleta. Só vazio, um oco de cores frescas, furtivas. 

Choro dos parentes. Comentários da vizinhança. Uma celeuma dramática. “Saíra a lagarta já borboleta?”. “Foi raptada por algum par alucinado?”. Tantas perguntas inúteis, respostas mudas, informações falsas, até mesmo caluniosas. 

Uma flor assistia a tudo, a metros poucos. Destoava do jardim inteiro: linda, mais que as outras. A coloração da flor em apreço lembrava a de uma borboleta; aliás, com todas as letras: eram as próprias cores da borboleta. 

Diante do quadro patético das companheiras de asas, a flor ria com as pétalas, gargalhava de chorar, com lágrimas de orvalho. “Ai ai!”, suspirou irônica, aliviada. Alívio por ambientar-se numa paragem onde sente as próprias cores. (Texto de Valdeir Almeida, respeite os direitos autorais)

2 comentários:

  1. Poético, suscinto e profundo.
    Parabéns, Val, pela retomada em grande em estilo!

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    1. Muito obrigado, meu amigo Weslley!
      Enfim, estou retomado as atualizações.
      Abraços!

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